Por Marcela Rodrigues e Maiara Moreira

Dentro do jornalismo as inverdades são um dos obstáculos, mas o bom profissional que entende a sua responsabilidade perante a sociedade, averigua cada vírgula dita por suas fontes antes de disseminar novidades. Infelizmente em nossa atualidade as Fake News têm gerado lucros, abrindo um mercado de mentiras e de profissionais sem ética.

É importante entender as consequências negativas dessas notícias falsas. Um exemplo do caos que elas podem causar aconteceu há cerca de 80 anos nos EUA. Em uma transmissão de rádio da CBS, Orson Welles fez uma dramatização do livro A Guerra dos Mundos, do escritor britânico Herbert George Wells, trocando os nomes das cidades citadas no livro por cidades da Costa Leste Americana. Ele incluiu efeitos sonoros e depoimentos de testemunhas, como sendo uma notícia fresquinha de uma invasão marciana à Terra. Estima-se que das 6 milhões de pessoas impactadas pela transmissão, 1,2 milhão tenham acreditado no que ouviram pela rádio. Três cidades, incluindo Nova Jersey, de onde a CBS emitia seus sinais, ficaram totalmente paralisadas, um pânico geral.

Na cidade de Acatlán, no México, um jovem e seu avó foram linchados e mortos pela população da cidade que acreditaram, devido a mensagens enviadas via WhatsApp e Facebook, que ambos eram os sequestradores de duas crianças do município. O jovem de 21 anos e seu avô de 43 foram detidos para averiguação das informações, a polícia declarou que os dois homens eram inocentes e os liberou. Mas, ao saírem da delegacia se depararam com uma multidão que os espancaram e atearam fogo em seus corpos ainda vivos. Segundo a reportagem realizada pela BBC NEWS, este não foi um caso isolado, outros muitos inocentes foram mortos devido a boatos disseminados em redes sociais.

Um caso muito parecido aconteceu aqui no Brasil em 2017, na cidade de Araruama no Rio de Janeiro. Após boatos sobre possíveis sequestros de crianças que começarem a circular em mensagens no aplicativo WhatsApp um homem e uma mulher foram atacados pela população em fúria. Segundo informações da Polícia Civil, Luiz Aurélio de Paula e a mulher que o acompanhava, foram apontados como autores dos possíveis sequestros na história que viralizou. Cerca de 200 pessoas se aglomeraram em volta do carro de Luiz e iniciaram o ataque, com isso a Guarda Civil e a Polícia Militar foram acionadas e retiraram o casal inocente do local. Um popular ateou fogo no veículo.

De acordo com o jornalista e professor, mestre e especialista em Jornalismo Científico e Cultural, Marcel Stefano Tavares, as Fake News podem causar um impacto maior nas cidades pequenas.

“Não pelo tamanho do impacto, pois este acredito que seja proporcionalmente igual em cidade maiores. Mas pela velocidade de resposta das entidades que possam desfazer essa Fake News ou até mesmo evitar problemas maiores. Os grandes centros têm entidades que correm para desfazer as mentiras e os serviços de segurança pública existem e podem dar um apoio rápido caso um tumulto se inicie. No caso de pequenas cidades, essas entidades não existem e os serviços de segurança pública são bastante restritos. Existem cidades, por exemplo, que têm um efetivo de 2 policiais e 1 delegado compartilhado por várias cidades. No caso de um tumulto gerado por fake news, seria um grande problema para reunir um efetivo suficiente para frear esse tipo de manifestação.” Comentou Marcel.

Com a chegada da internet as disseminações das Fake News acontecem de forma mais fácil e rápida. O diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria, Claudio Martins, diz que a crença em fake news é um fenômeno sociocultural que envolve diversos fatores de alta complexidade. Entre os mais relevantes, ele cita o analfabetismo digital da população brasileira e também afirma que as pessoas que compartilham notícias falsas experimentam uma sensação de bem-estar semelhante à de usar drogas.

“Quando a pessoa recebe uma notícia que a agrada, são estimulados os mecanismos de recompensa imediata do cérebro e dão uma sensação de prazer instantâneo, assim como as drogas. Ocorre uma descarga emocional e gera uma satisfação imediata. Isso impulsiona a pessoa a transmitir compulsivamente a mesma informação para que seu círculo de amizades sinta o mesmo. Por isso, há os encaminhadores compulsivos”, explicou o psiquiatra à BBC News Brasil. Esse bem-estar anula nosso senso crítico, fazendo com divulguemos sem verificar a veracidade dos fatos.

Fake News e tragédias

Segundo um estudo da Diretoria de Análises de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), cerca de 30% das notícias mais divulgadas sobre a tragédia de Brumadinho nas últimas semanas eram falsas ou incorretas. Em entrevista à revista VEJA, o porta-voz dos Bombeiros, Pedro Aihara, afirmou que as ‘fake news’ atrasaram o trabalho de encontrar vítimas e na recuperação dos corpos.

Alguns dos órgãos federais que buscam maneiras de combater as Fake News são o Ministério da Saúde e o Exército Brasileiro. O Ministério da Saúde disponibilizou um número de WhatsApp para que a população envie mensagens que serão apuradas pelas áreas técnicas e respondidas oficialmente em suas redes se são verdade ou mentira. As mensagens podem ser enviadas ao número (61)99289-4640. Já o Exército Brasileiro lançou uma ação de cunho informativo e educacional, composta de postagens, banners, vídeos e chamadas de áudio veiculadas na Rádio Verde-Oliva FM, nas mídias sociais do Exército Brasileiro e ainda no portal oficial na internet.

Pensando nesta geração que está cada vez mais online, um jogo foi criado para ensinar as crianças a identificar notícias falsas e a combater o medo.

Os autores do game são os produtores de “Tito e os pássaros”, filme brasileiro pré-indicado ao Oscar de melhor animação. O jogo está disponível para jogar on-line, desenvolvido para demonstrar, de forma lúdica, como estamos expostos a golpes e como a cultura do medo e da paranóia está presente quando usamos os meios digitais. Na página, professores e educadores podem baixar material de apoio para usar o jogo nas escolas.

Durante a interação, o objetivo é não se deixar enganar. A cada erro, o jogador diminui sua coragem até chegar ao nível de contágio do medo, em que ele se transforma em pedra e perde o jogo.

Fake News em Araçoiaba da Serra

Sargento Rocha – PM Araçoiaba da Serra

E as fake news foram responsáveis pela instalação de pânico também aqui na cidade de Araçoiaba da Serra. Com a disseminação de notícias fake via redes sociais sobre roubos e assaltos, um pânico geral se instalou junto à população. De acordo com o 1º Sargento da Polícia Militar Rocha, responsável pela base da PM na cidade de Araçoiaba da Serra a falta de conhecimento entre o que é roubo e o que é furto entre as notícias reais e as fake news divulgadas no último mês na cidade, aumentaram ainda mais a sensação medo entre a população.

“A maioria das pessoas não sabe diferenciar o furto do roubo. O furto ocorre quando se leva o bem material da pessoa pela destreza. Sem o proprietário perceber o indivíduo entra em uma casa ela está fechada, não tem ninguém no momento, e o indivíduo leva um objeto de valor uma TV, um botijão de gás, um microondas ou qualquer outro objeto de valor e a pessoa só vai perceber quando chegar em casa. Então não houve violência, mas sim uma destreza do indivíduo que praticou o furto. Já o roubo não, o roubo é mediante ameaça de força, ou você entrega aquele bem material ao indivíduo ou você vai sofrer as conseqüências correndo o risco de perder a própria vida se reagir. Então o trauma psicológico numa vítima de roubo é extremamente grave. As as pessoas precisam saber diferenciar isso, o que é Furto do que é Roubo”, explicou Rocha.

Sargento Rocha afirma ainda que o fake news acabou se tornando comum com as redes sociais e a facilidade de acesso que as pessoas tem a internet. “Isso prejudica o trabalho da Polícia Militar, pois as notícias falsas, as fake news apavoram”, comentou. Segundo Sargento Rocha noticiar um furto como roubo ou ainda disseminar uma fake news é um desserviço a população e também a cidade.

Não bastasse a disseminação de fake news sobre supostos roubos e furtos que segundo informações da Polícia Militar não ocorreram, os trotes são também um problema enfrentado pelas forças de segurança de Araçoiaba da Serra. Conforme informações do Comandante da Guarda Civil Municipal GCM Patrício, o trote atrapalha de forma significativa o trabalho da GCM. “Começa com o deslocamento da viatura, que vai ao local onde uma ocorrência foi denunciada e ao chegar não existe ocorrência alguma”, comentou.

Comandante Patrício – GCM Araçoiaba da Serra

Segundo Comandante Patrício no fim do mês de janeiro a quantidade de trotes passados na Guarda Civil Municipal gerou caos aos trabalhos da GCM. “Esse quadro piorou com casos de fake news disseminadas em rede social”, afirmou.

Após isso a Guarda Civil Municipal tem conscientizado a população quanto a importância do preenchimento de todo protocolo quando há uma denúncia, buscando assim efetividade do trabalho desempenhado pelas equipes sem que seja perdido tempo com trotes ou fake news. E o comandante ainda faz um alerta a população “é importante que as pessoas façam o registro das ocorrências, para que as forças de segurança do município tenham estatísticas e orientação dos locais onde há índices de ações de bandidos”, comentou.

A falta de registro das ocorrências também é um problema enfrentado pela Polícia Militar, que intensifica atuação conforme dados estatísticos. De acordo com dados da PM na cidade de Araçoiaba da Serra no mês de novembro foram registrados 3 roubos realizados pelo mesmo autor que foi preso na cidade de Sorocaba. No mês de Dezembro houve registro de um roubo e no mês de janeiro foram registradas 4 ocorrências de roubo realizadas por um único indivíduo que já está detido. No mês de fevereiro até o fechamento desta reportagem nenhuma ocorrência de roubo ou furto havia sido registrada na cidade.

No mês de janeiro o jornal Araçoiaba da Serra denunciou via redes sociais uma publicação fake onde a fotografia de uma cachoeira foi postada com localização no bairro Jardim Nogueira, e tratava-se de outro país.

 

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