Intoxicação por Metanol em São Paulo: Como a Substância Afeta a Visão de Forma Irreversível

Surto de bebidas adulteradas deixa vítimas, provoca risco de cegueira permanente e pode levar à morte

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Nos últimos dias, o estado de São Paulo tem registrado um surto de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas. Até então, o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) foi notificado com 43 casos no país, a partir da ingestão da substância. Na capital paulista, já há pelo menos 39 casos, sendo 10 confirmados e 29 em investigação, o que tem motivado ações de combate em todo o Brasil, inclusive no Rio de Janeiro.

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Entre as ocorrências, foram registradas oito mortes, uma delas oficialmente confirmada como decorrente da substância. Além disso, Pernambuco também apura quatro casos suspeitos. Segundo as investigações, criminosos teriam adicionado metanol ilegalmente às bebidas para aumentar o teor alcoólico e reduzir custos de produção.

Diante disso, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro anunciou, em outubro, que vai fiscalizar o comércio de bebidas alcoólicas na capital. Como medida preventiva, produtos sem origem comprovada poderão ser multados e apreendidos.

Altamente tóxico, o metanol é metabolizado pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, que tornam o sangue ácido e provocam danos severos. Além do risco de falência de órgãos e morte, também preocupa o impacto sobre o nervo óptico, associado a casos de cegueira irreversível.

O metanol é um álcool incolor e volátil, usado principalmente na indústria como combustível, solvente e matéria-prima para tintas e plásticos. Quando ingerido, mesmo em pequenas doses, pode causar dor de cabeça, tontura, náusea e visão turva nas primeiras horas.

Em situações graves, a intoxicação evolui para convulsões, falência múltipla de órgãos e óbito. Autoridades alertam que a ingestão de apenas 10 ml já pode gerar consequências sérias.

O surto ganhou destaque em São Paulo no fim de setembro. O governador Tarcísio de Freitas anunciou a apreensão de pelo menos 50 mil garrafas suspeitas, enquanto bares da capital foram alvo de operações policiais. Para as autoridades, há indícios de contaminação deliberada, feita por criminosos em busca de lucro.

Segundo o Google Trends, as buscas por termos relacionados ao metanol cresceram até 2.800% nos últimos dias, reflexo da preocupação da população com os episódios em São Paulo.

Especialista alerta para efeitos na visão

Entre os impactos mais graves da intoxicação por metanol estão os danos irreversíveis ao nervo óptico. Isso ocorre porque o ácido fórmico se acumula no organismo, prejudica a oxigenação celular e leva à morte das fibras nervosas responsáveis pela visão.

Segundo o especialista Dr. Ricardo Filippo, da COI Oftalmologia, esse processo é rápido e, sem tratamento imediato, pode deixar sequelas permanentes.

O tratamento só é eficaz se iniciado precocemente, idealmente nas primeiras 8 a 24 horas após a ingestão, antes que ocorra dano estrutural permanente; após 48 horas, a chance de recuperação visual é muito baixa”, explica o especialista.

Um dos desafios está no tempo de reação. Existe uma janela curta para que o tratamento oftalmológico seja eficaz e consiga impedir a evolução para a cegueira. Ultrapassado esse limite, as lesões tendem a se tornar irreversíveis.

Os sintomas visuais também são sinais de alerta: visão turva súbita e progressiva, fotofobia, sensação de neblina ou véu, manchas no campo visual, dificuldade em distinguir cores e perda parcial ou total da visão. Nesses casos, a recomendação é procurar imediatamente um pronto-socorro.

A diferença em relação à visão turva de uma ressaca comum é que, no caso do álcool etílico, a turvação é leve, transitória e melhora com repouso e hidratação, enquanto no metanol ela é intensa, persistente, tende a piorar rapidamente e pode evoluir para cegueira irreversível se não houver tratamento precoce”, alerta o médico.

No hospital, o tratamento costuma envolver uma abordagem multidisciplinar, que busca neutralizar os efeitos do metanol no organismo e, ao mesmo tempo, proteger a visão. O acompanhamento oftalmológico é parte fundamental desse processo.

No cenário de emergência, o papel do oftalmologista é reconhecer precocemente os sinais visuais de intoxicação por metanol, diferenciar de outras causas de visão turva, documentar a extensão do dano ocular e alertar imediatamente a equipe clínica sobre a gravidade do quadro, já que o tratamento deve ser iniciado sem demora”, conclui.

Para os sobreviventes que ficam com sequelas, a reabilitação envolve recursos como treinamentos visuais, tecnologias assistivas e adaptações na rotina, que ajudam a recuperar a autonomia. Ainda assim, especialistas reforçam que a prevenção continua sendo a forma mais eficaz de evitar tragédias como as registradas em São Paulo.

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